Susana Esteban, uma enóloga espanhola que escolheu Portugal para viver e fazer a sua carreira no mundo dos vinhos, é uma lufada de ar fresco no sector e no Alentejo.
Susana Esteban nasceu em Tui, Espanha, e apaixonou-se por Portugal. Licenciada em Ciências Químicas pela Universidade de Santiago de Compostela e com o mestrado em viticultura e enologia feito em Rioja, Susana tinha uma especial adoração pela história do Douro, pelo que se candidatou a uma bolsa para vir estagiar para a Sandeman, em 1996. Depois, começou como enóloga em 1999, na Quinta do Cotto, em Mesão Frio, e radicou-se em seguida na Quinta do Crasto entre 2002 e 2007.
Em 2009, farta de lutar nas casas onde trabalhou com o facto de ser uma mulher muito jovem e ainda por cima espanhola (normalmente não seguiam as suas ordens), ‘liberta-se’ para iniciar o seu projecto pessoal de fazer vinhos diferentes do típico Alentejo tradicional.
Para isso, precisava de vinhas e a sua procura arrasta-se durante dois anos. Finalmente, em 2011 encontra, perto de Évora, uma vinha plantada com Alicante Bouschet em solos xistosos e com produção muito baixa. Logo de seguida, descobre, em Portalegre, na Serra de São Mamede, uma vinha tradicional com 80 anos, também com índices produtivos muito baixos, e que se encontra numa zona muito mais fresca do que o restante Alentejo.
Destas duas vinhas, vieram a nascer os seus vinhos Procura (tinto e branco) – os nomes têm sempre a ver com situações especiais vividas pela enóloga --, e que acabam de ser distinguidos pela famosa revista norte-americana Wine Advocate com notas elevadas. O Procura Branco 2015 (20 euros) recebeu 91 pontos em 100 possíveis e o Procura Tinto 2013 ( levou 93 pontos. O branco, feito com as vinhas velhas de Portalegre, tem muita estrutura, mineralidade, frescura e é muito gastronómico. Quanto ao tinto (55% de Alicante Bouschet e 45% de vinhas velhas de Portalegre) notamos o seu carácter mineral e também vegetal. É um vinho poderoso, com um toque frutado, e evidencia grande frescura.
Susana Esteban continuou na sua busca por novas parcelas de vinha e a decisão, cada vez mais vincada, de se tornar produtora (estádio que acrescenta ao de enóloga), veio a dar-lhe a ideia para um novo vinho, o Aventura, o que ilustra esta nova fase da sua vida. Deste vinho, provámos o Aventura Tinto 2015 (10 euros), ele também distinguido com 90 pontos. Produzido com Aragonês (40%), Touriga Nacional (40%) e os restantes 20% com as castas tradicionais da vinha de Portalegre, o vinho mostra-se elegante, floral, fresco e pode evoluir muito bem em garrafa.
A prova seguiu com o Sem Vergonha Tinto 2015 (90 pontos), nome que a produtora explica com a ‘’falta de vergonha’’ em fazer um vinho sem utilizar uma grande extracção da casta Castelão. Este vinho, feito em parceria com o enólogo Dirk Niepoort, é explicado pela própria Susana Esteban pelo seu gosto natural pela casta Castelão. ‘’Sempre achei que esta casta era o Pinot Noir português e que toda a gente punha de lado por ter uma cor muito aberta. Mas eu e o Dirk queríamos um vinho à moda de Borgonha’’. O Sem Vergonha Tinto 2015 tem imensa fruta e estrutura, mostra-se fresco e elegante. O seu preço de mercado é de 20 euros.
Também a receber pontos (92) na famosa revista, aparece-nos o Cabriolet Tinto 2015 (preço sob consulta), um vinho feito com Touriga Nacional, evidenciando sabor frutado, acidez e muita elegância.
Para já, e apesar de Susana Esteban ter ainda mais dois vinhos seus (Aventura Branco e Sidecar, este com um enólogo convidado), e de ser também consultora de outros produtores alentejanos como Tiago Cabaço, Herdade do Barrocal e Monte da Raposinha, e de fazer dois vinhos (Crochet e Tricot) com a sua amiga, e também enóloga, Sandra Tavares da Silva, ficam aqui estes excelentes néctares que se diferenciam, de facto, dos típicos vinhos tradicionais alentejanos, desde logo pela sua frescura. A não perder!
in Diário de Notícias
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