quarta-feira, 26 de maio de 2010

Tradições esquecidas cantadas por 500 vozes


Valença Coro composto por crianças e idosos canta ao vivo no dia 6

Duas gerações totalmente opostas juntam-se num coro com meio milhar de vozes. Crianças e idosos cantam em uníssono canções típicas do Minho e vão apresentá-las no próximo dia 6, ao vivo, junto às muralhas de Valença. Um espectáculo sem igual.

"Dezoito pessoas contra p'raí 80, eles ouvem-se muito mais do que vocês que são tantos!...", ralha a maestrina Antónia Serra, que dirige com vigor o coro misto que, no próximo dia 6, irá apresentar, no interior das muralhas de Valença, um espectáculo inédito. Cerca de 500 vozes de crianças e idosos vão interpretar o cancioneiro tradicional da região, de tal maneira caído em desuso, que até os mais velhos que antes o cantavam já nem se lembram dele.
"Algumas canções são do meu tempo, mas estou esquecida", comenta Maria Freitas, 72 anos, uma das cantoras mais entusiastas do ensaio a que o JN assistiu, no Centro Escolar de Valença. Aquele ensaio recebeu uma quinta parte dos intervenientes do coro, que tem no repertório 13 canções do Minho Litoral e do Alto Minho.
O projecto denominado "Território na Voz" insere-se no âmbito do programa "Aproximar-te" da responsabilidade das Comédias do Minho, companhia de teatro residente no Vale do Minho.
"A ideia foi juntar duas gerações numa partilha do que é o património oral da região e passar também esse legado aos mais novos. Tenta-se fazer a passagem para que esse património não se perca e também trazer os idosos à escola, que é totalmente diferente da que eles tiveram", esclarece Tânia Pereira, técnica do projecto pedagógico Aproximar-te, comentando: "Tem sido uma ligação muito interessante, até porque a maior parte dos idosos passa o dia no lar ou centro de dia e a aproximação com os mais novos foi uma oportunidade muito boa".
No pavilhão onde decorre o ensaio, o grupo de cerca de 80 crianças forma uma imensa mancha colorida de gente pequena. Sentados no chão, cantam voltados para o sector sénior, cujos 18 elementos se sentam em bancos corridos, de frente para a pequenada. No meio, está a frenética maestrina que se desdobra em esforços para manter o coro afinado.
"Oh minha rosinha, cartas são papéis, não quero que gastes, comigo dez réis... lai, lai, lai, lai...", cantam os pequenos sob a direcção de Antónia Serra que, de olho nos mais de-satentos, de vez em quando os repreende. Romário Fagundes, 8 anos, é um dos muitos irrequietos. Com nome de futebolista brasileiro, atribuído pelo pai, um admirador acérrimo do dito, o pequeno cantor diz que prefere "jogar à bola" às cantorias. "Gosto mais ou menos de cantar... mas canto, só que às vezes distraio-me", diz, rindo-se para os colegas. Já a septuagenária Maria Freitas mostra outro gosto: "Tem-me lembrado outros tempos. Gosto muito disto, de vir aqui e cantar com 
as outras".
in Jornal de Notícias

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