segunda-feira, 27 de abril de 2009

Palacete valioso convertido em pombal

Antiga casa senhorial de uma das maiores quintas da região acolhe 200 pombos. Proprietário diz que não tem sorte com os inquilinos e prefere dar asas à paixão pela columbofilia a receber uma renda choruda
Já foi a casa senhorial de uma das maiores quintas da região de Valença.
Hoje abriga debaixo do tecto da casa situada perto do quartel dos bombeiros de Valência cerca de duas centenas de pombas, a que o filho dos proprietários dá uma inédita preferência em detrimento de uma eventual venda do imóvel por uma substancial importância com sete dígitos ou de um provável arrendamento chorudo. Indiferente à especulação imobiliária, Adriano Lima, conhecido por "Nano" entre amigos e familiares, assume o seu amor incondicional à columbofilia e paga o preço da degradação da casa onde nasceu há 58 anos, em prol da sua utilização como pombal.
"Os meus pais, depois de deixarem esta casa, nunca tiveram sorte com os inquilinos e foram-nos 'deitando fora'. Até que quando foi feito o loteamento da propriedade por causa da construção de uma estrada, eu trouxe o meu pombal para aqui", explica ao Jornal de Notícias, comentando: "Sou feliz com estes inquilinos... só são um bocadinho dispendiosos". Do antigo casarão localizado junto a umas das entradas da vila de Valença e pertencente a uma quinta que, segundo Adriano Lima, "dava 30 pipas de vinho branco e 50 de vinho tinto", resta toda a estrutura. Incluindo o telhado e uma imponente escadaria, mas já sem qualquer possibilidade de ser habitada, pelo menos, por pessoas.
"Isto é uma doidice", comentam os vizinhos de longa data João Guterres, 79 anos, e Maria Cândida Pousada, 77 anos. Ali residente há 27 anos, o casal lembra que o agora pombal, "era uma casa rica, tinha um armazém de revenda de mercearia no rés-do-chão e a propriedade que se chamava Quinta do Chumbo ia por aí abaixo a perder de vista". "Quando deixaram a casa ainda estava muito boa para alugar, mas os pais não quiseram desgostar o filho", conclui Maria Cândida.
O pó, as teias de arranha e um intenso cheiro a pombal, reinam na moradia. O soalho roto, as paredes degradadas, as divisões baralhadas e irreconhecíveis com a ocupação dos 200 pombos, o corredor transformado em arrecadação e a casa de banho destroçada, ainda falam de abundância, só que como uma memória longínqua. "Eu nasci aqui neste quarto que dá entrada para o pombal", conta "Nano".
Ex-professor, ex-bancário e ex-funcionário de uma multinacional, este homem criou, juntamente com um bancário reformado seu actual sócio, uma loja de artigos columbófilos em Valença, e é o actual presidente da União Columbófila Valenciana.
Ao longo da vida acumulou tudo o que é prémio na área da columbofilia. "Já fui campeão da minha sociedade em todas as categorias, velocidade, meio fundo, geral, melhores pombos…ultimamente é que não por causa da alergia que tenho ao pó dos pombos", refere, sublinhando que nem esta sua incompatibilidade com a columbofilia o faz desistir. "Isto é um vicio que entra e é difícil sair. Todo o columbófilo é doido por pombas, senão não se metia nisto", frisa.
E o certo é que Adriano Lima dá todas as provas de amor. Além de ter os sete quartos, a sala e a cozinha da antiga vivenda, transformados em pombais e de ignorar a alergia de que padece, ainda gasta centenas de euros para alimentar a sua "extravagância" .
"Para a columbofilia não há crise. Podemos tirar à boca para dar aos pombos porque eles precisam de comer. A única coisa que podemos fazer com a crise é em vez de ter 100, ter só 50", justifica, fazendo contas: "Em média nunca gasto menos de 100 euros por mês".
A sua extrema dedicação aos pombos, pombais e voos, revela-se, de resto, nos gestos. "Este é um borrachinho, nunca voou. Vai no domingo a Portalegre", afirma, enquanto segura um bicho, posando para a fotografia e avisando o fotógrafo: "Teve sorte com este. Tem uns olhos bonitos, fora do comum".
Enquanto o velho casarão de Valença serve de casa aos seus pombos, Adriano Lima está a construir uma nova casa para si na freguesia de Cerdal. Por agora não quer ouvir falar em "deixar o vicio": "Só depois de estar bem estacionado na minha casa e longe daqui, porque não vou levar para lá os pombos para perder o vício, é que talvez deixe…".
in Jornal de Notícias

Sem comentários:

Enviar um comentário