Se a religiosidade está a perder terreno, o fenómeno ainda não terá afectado de forma muito visível o desenrolar das festas e rituais típicos da época pascal.
Generalizadas um pouco por todo o país, no período da Quaresma e Semana Santa multiplicam-se as procissões, umas de Encomendação das Almas, outras de penitência quaresmal. O JN foi procurar alguns bons exemplos destas velhas tradições, algumas das quais remontam à Idade Média. Rituais que contrastam com a vivência mais típica de uma sociedade de consumo em que a procura do novo relega o antigo para o obscuro canto de um passado recôndito. Contudo, o mais tradicional dos costumes pascais continua a ser a Visita Pascal de Domingo ou o Compasso, que se continua a realizar, à excepção de alguns grandes centros urbanos.
Os exemplos multiplicam-se um pouco por todo o país. Em Freixo-de-Espada-à-Cinta, a população participa na Procissão dos Sete Passos, também conhecida por Encomendação das Almas, a partir das zero horas desta Sexta-Feira Santa. Em Valpaços, a celebração decorre mais em torno do folar e no Minho encontramos o exemplo de um compasso que, partindo de Valença, atravessa a fronteira com Espanha. A geografia das tradições ainda contém uma paleta de rituais muito variados.Valença
Os párocos de Cristelo Côvo, Valença, e de Sobrado, Tui, Galiza, atravessam na próxima segunda-feira o rio Minho, de barco, cruzando os compassos pascais dos dois lados da fronteira a meio da travessia. Manda a tradição, ali conhecido por "Lanço da Cruz", que os sacerdotes levem a cruz a beijar à outra margem do rio para demonstrar o bom relacionamento transfronteiriço.
Todos os anos, o ritual repete-se. Cerca das 18 horas, o pároco de Cristelo Covo embarca até à outra margem, levando a cruz a beijar à população de Sobrado, enquanto o pároco da localidade galega retribui a viagem para cumprir idêntico ritual em solo português.
Por norma é na margem lusa que os povos das duas margens se juntam transformando o compasso pascal num arraial improvisado, ao som de bombos e gaitas de foles. A tradição dita também que, enquanto decorre o cerimonial, pescadores de Cristelo Covo lancem as redes ao rio e que todo o peixe que sair seja ofertado ao pároco português.
in Jornal de Notícias
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