Sousa Morais foi um importante regente e compositor para banda filarmónica, destacando-se o poema sinfónico Viagem do Gama que ele considerava a sua melhor obra. Durante a sua permanência em Braga, Sousa Morais dirigiu nos anos de 1907 a 1910, a Tuna do Seminário Conciliar de Braga e a Banda de Música da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Póvoa de Lanhoso.
Depois de fixar residência no Porto, dirigiu ainda a Banda de Música de São João da Madeira. As suas obras, espalhadas do norte ao sul do país, encontram-se em espólios das bandas que regeu, em bandas que ao longo de décadas interpretaram a sua música e em espólios particu- lares de músicos filarmónicos.
De um modo geral o seu legado revela grande mestria e criatividade, constituindo património musical filarmónico de relevo1.
A revista Nunca t’ aflijas de Sousa Morais
A revista de costumes locais Nunca t’aflijas de Sousa Morais foi estreada a 12 de Julho de 1903 no Teatro D. Geraldo e levada várias vezes à cena sempre com enorme êxito.
A peça em 3 actos e 16 quadros tem texto original de David Silva, jornalista e funcionário do Caminhos de Ferro e 16 números de música que Sousa Morais compôs. O Correio do Minho, de 2 de Junho de 1903, anunciou aos seus leitores a estreia desta obra:
A revista Nunca t’aflijas do Sr. David Silva estreia no Theatro S. Geraldo a 15 de Junho. A parte musical - o distinto Maestro Souza Maraes tem andado a ensaiar os cantores e coros.
Sousa Morais viria depois a compor um pot-pourri para banda filarmónica com as canções da revista Nunca t’aflijas. No Arquivo da Banda Musical de Cabreiros existem alguns fragmentos desta obra.
Dois concertos In Memoriam de Sousa Morais (1927 e 1940)
A 31 de Julho de 1927, o capitão chefe de música Joaquim Jacinto Figueiras, regente da Banda de infantaria 8 realizou um concerto na cidade em homenagem à memória do insigne compositor. O Correio do Minho publicou nesse dia um texto do Capitão Figueiras em que este enalteceu as qualidades do músico como compositor e regente de várias bandas e orquestras do país, afirmando ser Sousa Morais uma glória nacional no nosso meio artístico, tendo dado à cidade de Braga o melhor do seu esforço2. O concerto de homenagem dedicado à sua memória seria também, nas palavras do Capitão Figueiras, extensivo a todos os seus amigos bracarenses que souberam dar o devido apreço ao glorioso maestro.
Mais tarde, em 1940, a Banda de Infantaria 8 com regência de António Maias Meira voltaria a prestar uma homenagem ao compositor-regente Sousa Morais, realizando um concerto em sua memória na Avenida com um programa inteiramente preenchido com obras suas. Homenagem a Braga e Pot-pourri da Revista Nunca t’ aflijas foram duas das obras interpretadas nessa ocasião3.
No ano em que se comemora o centenário da sua morte, fica o desejo de podermos ouvir de novo em Braga as obras de João Carlos de Sousa Morais dedicadas à cidade e, em particular, a sua Viagem do Gama.
Por Elisa Lessa,in Correio do Minho
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