sexta-feira, 1 de maio de 2020

UM POVO QUE ESTÁ A CONSEGUIR PASSAR ‘DE FININHO’ PELA PANDEMIA

Quatro casos recuperados e apenas três casos ativos. O concelho de Valença, com cerca de 15 mil habitantes, está claramente a dar um exemplo de como atravessar uma pandemia com mais cabeça do que coração.
Cidade desde 2009, Valença não esqueceu o pânico e a dor vivida há 102 anos aquando a chegada da gripe pneumónica ao concelho. O vírus Influenza, que preferia vítimas mais jovens, ceifou dezenas de vidas em várias freguesias do concelho, nomeadamente Fontoura, Cerdal, Taião, Friestas, Gondomil e Boivão.
Sem saber muito bem o que fazer, o Município da altura mandava lavar ruas e casa. Apelava à solidariedade com as famílias mais pobres. Mas o povo desesperava. “No concelho de Valença, foram várias as manifestações desta religiosidade comprometida, que fazia eco da ideia de que a pneumónica era um castigo de Deus”, recorda a investigadora Alexandra Esteves em O Impacto da Gripe Pneumónica em alguns concelhos do Alto Minho.
Um século depois, o vírus mudou mas o desafio é o mesmo. Valença optou por vestir fato de gala. Mostra experiência. Alguma sorte… talvez. Mas os números falam por si e o presidente da Câmara, Manuel Lopes mostra-se contente mas deixa o alerta.
“Nunca é tempo de baixar a guarda. Antes pelo contrário! Temos de continuar a ter ainda mais precauções do que aquelas que tivemos até agora”, sublinhou o autarca à Rádio Vale do Minho, admitindo a hipótese de uma segunda vaga. “Tudo para que não haja mais nenhum infetado de futuro”.
Blindagem total nos lares
Valença foi dos primeiros concelhos no distrito a tomar medidas contra a propagação do novo coronavírus (COVID-19). A ponte centenária foi fechada. Na ponte mais recente, a travessia passou a estar condicionada. Na antiga alfândega, foi montado um centro de rastreios. E, enquanto noutros concelhos os lares de idosos padeciam com a nova doença, este concelho conseguiu fazer uma blindagem total aos mais idosos.
“Aqui, o êxito não se deve ao Município mas sim a todas as pessoas que estão diretamente ligadas a essas instituições. Desde muito cedo implantaram medidas para que o pior não acontecesse”, explicou Manuel Lopes. “Quero deixar aqui bem claro o meu apreço pelo mérito de todas essas pessoas envolvidas. Fizeram e estão a fazer um trabalho excecional”, enalteceu.
“Os grandes líderes vêem-se nos momentos difíceis”
Mas o elogios a Valença chovem de todos os lados. Do lado de cá e do lado da vizinha Galiza, onde a imprensa galega já louvou o Município valenciano pelo desempenho nesta situação. Manuel Lopes pouco liga a elogios. Continua a trabalhar de forma mais racional do que emocional. Mas as saudades da irmã galega de Tui vão apertando.
“Sou um defensor de irmos abrindo as fronteiras a pouco e pouco e irmos regressando à normalidade. Para os trabalhadores transfronteiriços, esta situação está a ser muito penosa”, lamentou. “Estão a deixar o seu salário no carro e na estrada!”, exclamou.
Manuel Lopes, recorde-se, assumiu o cargo de presidente da Câmara de Valença há seis meses após a renuncia de Jorge Mendes, atualmente deputado na Assembleia da República. Embora ligado às lides autárquicas há dezenas de anos, Manuel Lopes estreou-se indubitavelmente com um dos maiores desafios para um autarca: lidar com uma pandemia.
“Sempre encarei todas as situações com calma, como sempre me tenho pautado ao longo da vida. Aguardar com serenidade e dar resposta às questões a frio”, afirmou em tom taxativo. “Os grandes líderes vêem-se nos momentos difíceis. E não nos momentos fáceis. E o que não nos mata, endurece-nos”, concluiu.
Valença conta nesta altura com apenas sete casos confirmados de infeção pela COVID-19, sendo que quatro deles já estão recuperados. Restam somente três ativos.
Portugal registou nas últimas 24 horas mais 18 vítimas mortais devido à pandemia de COVID-19 e mais 305 casos de pessoas infetadas, de acordo com o boletim epidemiológico desta sexta-feira, da Direção-Geral da Saúde (DGS).
No total, há agora 1.007 óbitos e 25.351 casos positivos desde o início do surto, enquanto o número de casos recuperados subiu para 1647, mais 128 do que na véspera.
in Rádio Valedominho

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