terça-feira, 8 de junho de 2010

Território de Valença na voz de todos


600 meninos novos e velhos de cinco municípios saíram das escolas e centros de dia para ensaiar canções do Minho. Ontem deram espectáculo em Valença.
"Não me deixem ficar mal, por favor!". O pedido foi dirigido, ontem, pela maestrina Antónia Serra, de mãos na cabeça e olhos arregalados, a 600 crianças e idosos, minutos antes do arranque da apresentação do espectáculo ensaiado nos últimos dois meses pelo imenso grupo, com um repertório de 13 canções típicas do Minho já caídas em desuso.
Às 16 horas deste domingo, no jardim de Valença, o gigantesco coro promovido pela Comédias do Minho (Associação para a Promoção de Actividades Culturais do Vale do Minho) teria de prestar provas perante o público. E assim foi. No final, Antónia Serra deu os parabéns e fez questão de abraçar e muito todo os seus "meninos novos e meninos velhos". Gente de todas as idades junta no âmbito de um projecto pedagógico designado "Aproximar-te" e que juntou os agrupamentos de escolas e centros de dia de cinco concelhos.
"Foi com bastante emoção que trabalhei pela primeira vez com meninos velhos e novos misturados e pensei que no decorrer desta preparação iriam surgir alguns conflitos de gerações, porque as crianças têm traquinices que não são muitas vezes entendidas pelos mais velhos, mas eles deram-se todos muito bem e o resultado viu-se hoje. Acho que toda a gente participou aqui e de que maneira", afirmou a maestrina no final da actuação e de correr o coro inteiro a distribuir abraços.
Camisolas coloridas
Pouco passava das três da tarde e já o original grupo coral se alinhava no espaço verde em declive, situado entre a Fortaleza e o jardim público de Valença O aglomerado de gente de todas as idades depressa se tornou visível a uma grande distância, sobretudo pelas cores das camisolas de cada grupo de "cantores", verdes para os de Melgaço, azuis para os de Vila Nova de Cerveira, vermelhas para os de Monção, cor-de-laranja para os de Valença e amarelas para os de Paredes de Coura. Monitores, crianças e idosos formaram o coro virado para a principal avenida que atravessa a cidade e leva até à fronteira com Tui (Espanha) e uma multidão, pejada de pais,outros familiares e amigo, com câmaras fotográficas e telemóveis içados no ar a disparar sem parar, rodeou-o em semi-circulo. O cheiro a pipocas compunha o ambiente festivo.
À hora marcada elevaram-se as vozes, umas ainda nos primeiros anos de vida e outras já a acusar o peso dos anos, com uma primeira canção, a lembrar os trabalhos do campo, intitulada "Segadinhas" e que a maestrina lembrou estar classificada como uma "pérola" do cancioneiro do Minho". Seguiram-se outras, todas recuperadas da "memória da tradição oral" minhota, desde "Rosa de Alexandria", a "Biba a pandega" ou o "Canto de Bendimas".
A entoação começou tímida com pouca reacção do público, mas os incentivos constantes da entusiasmada maestrina depressa surtiram resultado. "Oh meninos os que estão aí mais para baixo vão ter que valer por três para as pessoas que estão mais os longe os ouvirem e não quero ninguém de braços cruzados!", proclamou. A resposta não de fez esperar e o publicou reagiu acompanhando o coro com palmas. Às palavras de ordem "meninos cantem com genica!" e "mais apaixonados agora!" os novos cantores, principalmente, os mais novos puxaram ainda mais pela voz. "Alecrim, alecrim aos molhos por causa de ti choram os meus olhos...Ai, meu amor, quem te disse a ti. que a flor do monte era o alecrim? ...".
Vem aí um documentário
"Ao longo do espectáculo fui sentindo um crescendo. No início notava-se algumas distracção, desafinação, aliás desafinação houve o tempo todo mas isso também era próprio porque a preparação foram só cinco sessões e não esperava melhor, mas o entusiasmo com que o fizeram superou as minhas expectativas", comentou Antónia Serra, ainda ofegante de emoção e depois de escrever num papel os seus contactos para uma das cantoras seniores. "Ficou uma ligação muito forte, porque através da música é fácil conseguir essa ligação e esse entusiasmo porque a música também transmite isso às pessoas", comentou como que a justificar os abraços "a perder a conta" que deu no final da apresentação do seu coro.
O espectáculo ficou registado em vídeo para um documentário sobre todo o processo de criação deste projecto a que a Comédias do Minho deu o nome de "Território na voz".
in JN

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