Foi, na altura, um acontecimento que veio quebrar a rotina da pacata freguesia de Friestas, em Valença.
A 12 de Novembro de 1933, há 77 anos, o homem que fez a primeira travessia aérea do Atlântico Norte ficou sem combustível no seu hidroavião e pousou no Rio Minho. A visita “forçada” mobilizou as autoridades locais e é, ainda hoje, recordada na terra. Há, até, um monumento, erguido a poucos metros do local da amaragem.
“As pessoas descrevem um homem alto, com uma mulher ao seu lado, baixinha, pequena, vestida com calças, que puxou de um cigarro e fumou. Isto, numa terra pequena como a nossa, onde as mulheres usavam saias até aos tornozelos, é evidente que criou muito espanto entre as pessoas”. O relato é de Alípio Nunes, escultor e desenhador autodidacta de Friestas, que reproduz o que contavam as pessoas que, a 12 de Novembro de 1933, assistiram à amaragem do hidroavião de Charles Lindbergh no rio Minho. Com ele seguia a sua mulher, Anne Murrow.
Falta de gasolina
O piloto norte-americano tinha sido o primeiro homem a fazer um voo solitário transatlântico sem escalas, num voo que foi também a primeira ligação aérea sobre o Atlântico Norte. A 20 de Maio de 1927, partiu de Nova Iorque, a bordo do “The Spirit of Saint Louis”, e aterrano 33 horas e 31 minutos depois, em Paris.
Seis anos depois, Lindbergh estava a fazer um voo entre Grenoble e Lisboa, “onde ia participar num estudo comercial para uma companhia aérea”, quando “ficou sem gasolina”, no seu Lockheed. A solução foi pousar no Rio Minho.
“Ele descreveu uma série de voltas antes de pousar. Ele vinha de norte e teve de dar a volta para pousar contra a corrente do rio”, conta Alípio Nunes, autor do monumento que, desde 1997, em Friestas, lembra o acontecimento, e que tem lutado “para preservar a memória” da passagem do vulto da aviação pela freguesia minhota.
Assim que pousou, uma multidão acorreu às margens do Minho. “Seria difícil ver um avião tão próximo naquela altura”, explica Alípio Nunes, acrescentando: “Devido ao atraso que se vivia no nosso país, o problema da falta de combustível foi resolvido a partir de Vigo, em Espanha, onde foram buscar a gasolina. Aqui não havia”.
Lindbergh ficou três dias por terras minhotas. “Juntaram-se as autoridades para o homenagear, na Câmara de Valença, e ele ficou hospedado no antigo Hotel Valenciano”. Mas as homenagens também partiram da população, sendo a memória dessas iniciativas visíveis no monumento.
“Na escultura está aquilo que o povo lhe ofereceu: um pedaço de ferro de uma forja que serviu como âncora para prender o hidroavião. Eu tive o cuidado de pôr essa corrente, original, na escultura”, conta Alípio Nunes.
Monumento “para preservar a memória” Para encontrar o monumento que recorda o dia 12 de Novembro de 1933 é preciso percorrer a estrada nacional 101, entre Valença e Monção, seguindo a placa que indica a saída para a capela do Senhor dos Aflitos. A escultura está na berma do caminho que atravessa uma zona de pinhal com algumas habitações, a 800 metros do local onde Lindbergh pousou.
“Nós queríamos colocá-lo o mais próximo possível do local onde ele fez a amaragem”, mas “a Junta Autónoma das Estradas não deixou”, lamenta Alípio Nunes que recorda o que os mais antigos contavam sobre o momento em que Lindbergh fez subir o hidroavião, abandonando o Minho: “Quando levantou, deu uma série de voltas, numa espécie de saudação com as asas, despedindo-se da população de Friestas”.
in Rádio Renascença
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