segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

São Teotónio O Primeiro Santo Português

São Teotónio é relativamente desconhecido dos portugueses. No ano que a Diocese de Viana toma São
Teotónio como protector e modelo de evangelização na carta pastoral para 2018/2019 e depois de o Papa Francisco ter recebido uma imagem deste santo, o Igreja Viva explica quem foi o primeiro santo português.
Juventude e início da vida religiosa 
São Teotónio nasceu em 1082 na freguesia de Ganfei, em Valença, no seio de uma família abastada. Os pais foram os primeiros a educar Teotónio na fé mas foi o tio-avô, D. Crescónio, o seu primeiro professor. Quando D. Crescónio foi nomeado bispo de Coimbra, no ano de 1092, levou consigo Teotónio, confiando a continuidade da sua educação a um jovem seminarista, Tello.
A morte de D. Crescónio em 1098 faz Teotónio partir para Viseu, onde o seu tio Teodorico é prior da Sé Catedral. Teotónio foi ordenado sacerdote algures antes de 1109 pelo bispo de Coimbra, sendo nomeado cónego do Cabido da Sé de Viseu.
Prior de Viseu
O sacerdócio de São Teotónio foi bem recebido em Viseu, em grande parte devido à sua conduta pessoal de humildade e moralidade. A morte do seu tio Teodorico, por volta do ano 1112, precipita o jovem padre a aceitar a nomeação como prior da Sé de Viseu, apesar de alguma reluctância. Na altura, o Conde D. Henrique – pai de D. Afonso Henriques – e Dona Teresa, com apoio popular e do clero, procuraram restaurar a diocese de Viseu e fazer com que São Teotónio fosse nomeado bispo, mas o então sacerdote recusou sempre. Poucos anos depois, por volta de 1116, São Teotónio resignou e embarcou na sua primeira  peregrinação a Jerusálem. Depois de regressar a Portugal, Teotónio retomou o seu trabalho
como sacerdote e membro do Cabido da Sé de Viseu, recusando voltar a ser prior. A sua vida sacerdotal ficou marcada pela generosidade para com os pobres e pelas almas no purgatório, assim como pela repreensão de comportamentos que não considerava aceitáveis.
A criação da Ordem
São Teotónio fez uma segunda peregrinação à Terra Santa em 1126, reunindo um grande número de peregrinos. Enquanto em Jerusalém, Teotónio ficou com a comunidade dos Cónegos Regulares do Santo Sepulcro. Os religiosos pediram a São Teotónio que se juntasse à sua ordem. Teotónio, porém, recusou, regressando a Portugal e prometendo voltar a Jerusalém.
Ao voltar, dirigiu-se primeiro a Coimbra. Lá, o agora arquidiácono Tello tinha reunido dez outros homens
com a intenção de fundar um novo mosteiro. Teotónio esteve reluctante em aceitar o convite e abandonar os planos de voltar a Jerusalém, porém acabou por aceitar, dividindo a sua herança em partes iguais pelos pobres, pela diocese e pelas necessidades do novo mosteiro. Assim ficou formada a Ordem dos Cónegos Regulares da Santa Cruz, com o mosteiro concluído em 1132. Sendo eleito prior da Ordem, São Teotónio nunca aceitou o título de abade. O seu primeiro biógrafo, um religioso contemporâneo da comunidade, afirmou que o que mais impressionava em Teotónio era a união do mesmo com os irmãos da comunidade, tratandoos com bondade, honra e respeito, chefiando com moderação e bom senso.
Conselheiro do Rei
Durante o período de criação da Ordem, o primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, estava a reclamar o território português aos muçulmanos. A ordem da Santa Cruz foi confiada com a missão de
re-evangelizar os territórios, sendo-lhes entregues igrejas e propriedades para o estabelecimento de
mosteiros.
A admiração do rei D. Afonso Henriques por São Teotónio era profunda, estando ciente do quanto a ordem e o seu prior poderiam contribuir para a unidade da nação recém-nascida. D. Afonso escolheu Teotónio como o seu confessor e conselheiro, revelando todos os planos de conquista e esforços a que se submetia. Mas Teotónio não hesitava em corrigir o rei quando considerava que este tinha agido de forma errada. Exemplo é a história da reconquista de uma cidade da Andaluzia, onde os soldados de D. Afonso fizeram reféns mais de um milhar de moçárabes (cristãos ibéricos que viviam sob o governo muçulmano), tomando-os D. Afonso como escravos. Ao saber disto, São Teotónio, que não saía do mosteiro desde a sua fundação, dirigiu-se pessoalmente ao rei e exército e afirmou que pecavam contra o Senhor, conseguindo a libertação dos moçárabes escravos.
Últimos anos
Ao atingir os setenta anos – uma idade muito avançada para alguém no século XII – e vinte anos de serviço como prior, as forças de São Teotónio começaram a falhar. Depois de deixar o seu serviço pastoral, Teotónio tornou-se num eremita em solidão, lendo e rezando continuamente. Durante este período intensificou a correspondência com São Bernardo de Clairvaux, da Ordem de Cister, que enviou os seus próprios serventes a Teotónio quando soube da santidade deste. A 18 de Fevereiro de 1162, Teotónio faleceu em Coimbra, perto de atingir os oitenta anos de vida. Alvo de grande veneração e admiração, muitos, incluindo o rei, incitaram à canonização de Teotónio. Assim, após passar um ano da sua morte, Teotónio foi tornado santo.
in Diário do Minho

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