A uniformizaçom avança inexorável, para que negá-lo. O tsunami lingüístico espanhol alcança em 99% as faixas etárias mais novas de algumhas das nossas vilas. Há quem resista e quem desista, mas também há quem fuja, e a meio da fuga há famílias que até encontram luz no fundo do túnel.
Este mês fomos ao encontro de algumhas que aproveitam o facto de viverem ao pé da fronteira para darem às suas crianças um futuro em galego longe dos sacrifícios do costume.
A preocupaçom pola educaçom é cada vez maior num mundo que muitos pais e maes nom querem deixar assim às suas crianças. Um pouco por toda a parte surgem projectos educativos alternativos aos maioritários, orientados em grande medida para o individualismo e o consumo. O nosso país tem um problema acrescido. O galego deixou de ser a língua ambiental e formativa de muitos centros de ensino. Este é o contexto que levou umha dezena de famílias do Sul a decidirem servir-se do ensino público português, umha vez que nom é preciso ter residência em Portugal para o fazer. Falamos com três.
Alva tem 14 anos e estuda numha escola secundária de Caminha, depois de ter freqüentado o infantário e a educaçom primária de Valença, onde ainda se encontra o André, de 12 anos. Antes de ir para Caminha tivo oportunidade de começar o ensino secundário em Tui, onde mora ela e o seu pai, mas preferiu continuar em Portugal.
Alonso e Sílvia decidírom, há já 15 anos, que queriam dar-lhes umha educaçom em galego, mas as dificuldades eram tantas numha vila como Tui que nom o pensárom muito mais e decidírom inscrever a Alva, depois o André, numa creche (infantário de 0 a 3 anos) valenciana. “Na decisom pesou um convencimento claro de que queríamos educar os nossos filhos em galego e de que manejassem com fluência a versom internacional da nossa língua”, conta-nos Alonso, que acrescenta, porém, que os resultados benéficos para a Alva e o André nom se limitavam a este: “Éramos conscientes de que acabariam por dominar o português, também com o sotaque galego da nossa casa, o espanhol e o inglês. Também estudam francês, de maneira que saberám os idiomas mais importantes do mundo”. O certo é que afinal, produto da vocaçom multilíngüe do ensino em Portugal, tanto a Alva como o André acabam por presumir entre as amizades galegas de dominarem melhor outras línguas.
Com esta motivaçom fôrom os primeiros, mas nom tardárom a ser imitados, ainda que haja muitas outras famílias galegas que aproveitem a educaçom infantil portuguesa simplesmente pola falta de vagas nos infantários das vilas de aquém-Minho. Os filhos da Eva e do Salva, por exemplo, tenhem ido ao infantário com outras crianças galegas que nom compartilham a motivaçom deles. Chamam-se Nuno e Joana, vivem em Tominho e vam à escola a Valença. O Salva destaca que ainda nom conseguem distinguir o galego daqui e o dali. Com 6 anos, o Nuno, “quando lhe perguntam se há mais galegos na escola, responde: Nom, na minha som todo galegos”. O acicate da Clara e do Nolim foi também a questom da língua quando escolarizárom o Nel em Portugal. Porém, a Clara pensa que as crianças devem ser educadas no lugar em que vivem, dependendo o menos possível do pai ou da mae, e isso influenciou na decisom de terem ido a viver, ela e o seu filho, para Valença.
Qualidade do ensino
Tanto o Salva como o Alonso reconhecem que inicialmente encontrárom estereótipos sexistas que nom eram do seu agrado. “No infantário distinguiam meninhos e meninhas com batas de diferentes cores. Nós dixemos-lhes que a bata dos nossos filhos nom ia ser nem azul nem cor-de-rosa, mas verde. No ano seguinte, pugérom batas verdes a todas as crianças”, explica o Alonso. Em contrapartida, o Salva assegura que “os profissionais som mui bons: existe umha preocupaçom mais directa polo alunado” e destaca a oferta de actividades do horário de prolongamento que disponibiliza o ensino português.
E o espanhol?
Calma aí. Se alguém pensava que estas crianças eram obrigadas a renunciar ao conhecimento do espanhol, enganava-se. Deste lado, o espanhol está em toda a parte e o resultado disso é que também acaba por ser adquirido por quem escolhe umha educaçom integral no galego da Galiza ou no de Portugal. “Eles nunca na vida estudárom espanhol. Tinham também essa opçom, mas nós escolhemos, para além do inglês, o francês como segunda língua estrangeira. No entanto, dominam o espanhol perfeitamente: lem muitos livros e banda desenhada em espanhol, e a televisom e a música fam o resto”.
in Portal Galego da Lingua
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