domingo, 2 de outubro de 2016

Valenciana Dora 'Pinta a Manta'

Dora Ferreira, 36 anos, casada, natural da freguesia de Verdoejo, em Valença, e técnica de Marketing, aposta forte na sua paixão pela costura. A artesã tem um projeto pessoal de artigos feitos à mão para bebés. O Pintar a Manta é a concretização de um sonho de infância que Dora se orgulha de mostrar. Atenta a todos os pormenores, cada peça que Dora produz é única e irrepetível. O seu objetivo é sempre a satisfação do seu cliente. Motivação, empenho, dedicação e vontade de tornar o seu projeto cada vez maior é aquilo que não falta a esta valenciana.   
 Minho Digital (MD) – Conte-nos quando é que a Dora decide transformar este projeto Pintar a Manta em realidade?
Dora Ferreira (DF) – Desde miúda que gostava de me sentar junto da minha mãe ou da minha avó e vê-las coser, bordar, fazer renda e tricotar e cedo foi surgindo a curiosidade e a vontade de experimentar. Felizmente foram pacientes e com cerca de sete ou oito anos começaram a ensinar-me e fui aprendendo um pouco de tudo e fazendo as minhas próprias “obras”. Lembro-me de fazer roupas para as minhas bonecas e bordar pequenos tecidos que depois oferecia, orgulhosa, à minha mãe. Porém, por circunstâncias ligadas ao estudo e depois com o ingresso na universidade, deixei de fazer qualquer actividade relacionada com a costura ou bordados. Finalizado o curso, e pela altura do casamento de duas pessoas próximas a mim retomei os bordados para colaborar na preparação das ofertas para os convidados. Criei Lenços dos Namorados e partir daí não parei mais. Recordo-me que, pela altura do nascimento dos meus afilhados, preparei e bordei lençóis, babetes e fraldas para lhes oferecer e pelo nascimento da filha de uma querida amiga fiz a primeira manta de retalhos, que cosi totalmente à mão, e o resultado e as apreciações deixaram-me bastante confiante e continuei a fazer mantas e outras peças, sempre para oferta aos bebés de amigos e familiares. Em Julho de 2012 nasceu o meu filho Martim e antes do nascimento preparei um pouco de tudo para a sua tão aguardada chegada com a colaboração carinhosa da minha mãe: babetes, fraldas, mantas, lençóis, muda fraldas, almofada de amamentação, protector de berço, saquinho para a primeira roupinha. Nesse Verão o meu marido, que sempre me apoia nos meus pequenos projectos e nestas “andanças” da costura, ofereceu-me uma máquina de costura, algo que já há muito pensava adquirir mas nunca me decidia por nunca ter experimentado e por não saber usá-la. Até que tive o impulso que precisava e foi nesse ano que, passadas algumas horas diante da máquina de costura a tentar aprender o seu funcionamento, surgiu o meu pequeno projecto Pintar a Manta.
MD – Como é que lhe surge o gosto pelas criações de artigos para bebés?
DF – A escolha por artigos de bebé foi algo que surgiu naturalmente, fruto do nascimento do meu filho e dos filhos de amigos, e pela vontade de criar para eles peças únicas e personalizadas, algo que qualquer mamã deseja para o seu bebé. No entanto, ao longo destes 4 anos já fui criando outras peças.
MD – A Dora produz mantas, babetes e fraldas com letras ou bordados para bebés. Porquê apostar apenas nestes três tipos de artigos?
DF – Inicialmente esses eram os três tipos de artigos que mais criava, contudo, acabei por conceber vários tipos de peças para bebé e a pedido de outras mamãs que passaram a visitar a minha página no facebook fui criando as peças de acordo com as suas necessidades. Por outro lado, como não possuo qualquer formação de costura, as peças com as quais me iniciei tinham de ser simples para que o resultado fosse o mais perfeito possível, pois sem formação, temos de ir tentando, errando, voltar a tentar até acertar: e foi o que aconteceu. Por outro lado, os bordados que ia aplicando, e que continuo a aplicar nos trabalhos, tinham o intuito de acrescentar beleza e detalhe às peças, pois desta forma posso personalizar e adequar cada artigo à criança a quem se destina. No que toca aos bordados sempre foi um tema nos qual me sentia algo mais cómoda por já os fazer desde miúda. Actualmente, continuo a aplicar alguns detalhes bordados nas peças de forma a individualizá-las, conferindo-lhe unicidade, impedindo que haja peças repetidas. Assim sendo, cada mamã que adquire uma peça no Pintar a Manta sabe que não a vai encontrar repetida em lugar nenhum.
MD - Pretende, num futuro, alargar a variedade dos seus artigos? Seguramente já deve ter tido pedidos de clientes seus para criar peças que habitualmente não realiza. Pondera esta possibilidade?
DF – Efectivamente ao longo destes anos fui criando outras peças que não teria pensado em fazer, mas o desafio deste projecto está nisso mesmo e na variedade de artigos que podem surgir. Muitas vezes são as mamãs (ou tias e avós – que são normalmente as minhas clientes) que me enviam imagens de peças que viram ou ideias que querem ver concretizadas e eu executo, colocando sempre o meu cunho pessoal, não copiando nem imitando. Tento criar um estilo próprio e que com o tempo se identifique com o estilo Pintar a Manta.
MD – “Pintar a Manta”. Porquê a escolha deste nome para o seu projeto?
DF – A expressão “Pintar a Manta” sempre me foi familiar para definir coisas que normalmente os miúdos fazem, que de tanto que criam e recriam, de tanto que brincam e se movimentam eles “pintam a manta”. Como a expressão indica, “Pintar a Manta” significa fazer uma variedade de coisas, fazer travessuras, sair do sério, fazer coisas extraordinárias e fora do comum, e esse sempre foi o objectivo deste projecto: criar uma variedade de artigos artesanais, diferentes, únicos e fora do comum,  que pudessem ir ao encontro dos gostos únicos de cada pessoa. A juntar a isto tínhamos o facto de as peças estrela deste projecto serem as mantinhas de bebé, por isso, nada mais adequado do que este nome para o meu projeto.
MD – Que meios utiliza para divulgar os seus trabalhos?
DF – Lamentavelmente, por questões profissionais e familiares não consigo destinar todo o tempo que desejaria a este projecto e o tempo que lhe dedico é quase exclusivamente para realizar as peças, sendo que a divulgação é feita principalmente pela minha página de facebook https://www.facebook.com/Pintaramanta-318015814974578/ e pelo “passa palavra” de amigos e pessoas que fazem encomendas.
MD – Onde vai buscar inspiração para as suas criações? Os desenhos que apresenta nas mantas, os bordados que faz nos babetes…
DF - Normalmente as peças surgem de pequenos detalhes. Muitas vezes os tecidos que escolho levam-me a criar determinadas conjugações, o nome da criança a quem será oferecida a peça, as cores, ou até palavras que a pessoa que as encomenda deixa escapar, pequenas coisas que se conjugam e fazem despontar uma ideia.
MD – A nível de receitas, desde que iniciou o seu projeto até aos dias de hoje, o negócio tem prosperado?
DF – Podemos dizer que houve um incremento do número de encomendas e como tal o projecto vai prosperando lentamente, com as inerentes limitações de tempo, pois não me dedico a ele a tempo inteiro.
MD – Qual costuma ser o feedback dos seus clientes quando a Dora lhes apresenta o produto final? Ficam satisfeitos ou já teve reações que lhe demonstraram que não era aquilo que eles esperavam?
DF – Normalmente as reacções são muito positivas, demonstram agrado e interesse. Julgo até que muitas vezes ficam surpreendidos com o resultado final pois não imaginariam a inclusão de determinados detalhes ou personalização. Tento sempre seguir a ideia de quem encomenda, contudo junto o meu toque pessoal e creio que esses dois elementos fazem com que haja satisfação por parte do meu cliente.
MD – Quais são os artigos que mais encomendas recebe? E quais os menos procurados?
DF-  Há uma procura variada, desde fraldas a babetes, carteira para os documentos do bebé, saquinhos para as primeiras roupinhas, protectores de cama, muda fraldas, toalhas de batismo e até batas escolares, aventais, lancheiras, bolsas. Inclusive já tive a encomenda de um Lenço de Namorados para oferta a uma noiva, um lenço bordado para uma noiva oferecer ao pai no dia do casamento, e o lenço da lapela para um noivo usar no dia. Todas elas são peças com um significado muito especial e que iriam fazer parte de momentos marcantes da vida daquelas pessoas e isso confere-me um sentimento de realização e satisfação muito grande. No entanto, os artigos mais procurados são sem dúvida as mantinhas de bebé e são as que mais gosto de criar.
MD – O preço de venda ao público dos seus produtos podem variar entre que valores?
DF – Os preços podem ir desde os 5€ ou 7€ até 40 ou 45€, contudo cada peça, o material e principalmente o tempo despendido requer uma análise cuidada. O tempo que se investe e a dedicação que se coloca em cada trabalho manual não há qualquer valor monetário que o possa pagar e isso só o compreende quem realiza trabalhos artesanais.
MD – Existe algo que gostaria de ver diferente no seu projeto, algo que ainda queira vir a implementar?
DF -  Certamente que a longo prazo gostaria de me dedicar mais a este projecto, no entanto, de momento espero apenas que continuem a surgir desafios e trabalhos para poder continuar a crescer como artesã e dar corpo a este projecto que me é tão especial.
MD – Na sua maioria, os seus clientes são do concelho de Valença ou também tem procura de pessoas de outros concelhos ou até de outros países?
DF – A maioria das encomendas são do concelho de Valença, Monção e Cerveira. Surgem algumas do Porto ou Braga e até do Canadá.
MD – Nos casos de clientes fora do concelho, as entregas das encomendas podem ser realizadas via correio?
DF –  Sim, em casos de encomendas para fora do conselho costumo enviar por correio, ou então, no caso de encomendas para ofertas é o próprio cliente que acaba por levar para oferecer diretamente.  
MD – Tem por objetivo conseguir um dia viver apenas do Pintar a Manta? Acredita que possa ser possível?
DF – O projecto é ainda muito recente para pensar em viver exclusivamente dele, haveria muito ainda por fazer para que isso pudesse acontecer, muitas alterações e implementações, muita dedicação e tempo investido que é coisa que presentemente não disponho. No entanto, se isso acontecesse algum dia, sentir-me-ia completamente realizada e feliz. Por agora, limito-me a desfrutar do tempo em que posso ter uma agulha e tecido nas mãos e posso criar sem limitações.
MD – Qual é o seu maior sonho com o Pintar a Manta?
DF – Considero que o sonho acaba por ser o projecto em si, fazer algo que me preenche completamente, que me libera das obrigações diárias, me permite imaginar, criar  e concretizar peças diferentes e que são um pouco de mim. Se vai evoluir, isso só o tempo o dirá.
in Minho Digital

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