Estávamos nos primeiros anos da segunda década do presente século, quando o futebol Valenciano iniciou os seus primeiros passos.
Um grupo de rapazes da Vila e outros, residentes, com alguns elementos da guarnição militar de Valença, principiaram a prática da modalidade, como passatempo, no Campo de Marte-Parada do Quartel.
Muitas vezes foram estilhaçados os vidros das janelas das casas da rua 5 de Outubro, com grandes protestos dos seus moradores e, tal facto, originou a proibição da modalidade naquele local. Por isso mesmo, foi transferida para o antigo “Campo de Exercícios” ou “Campo dos Eucaliptos”.
Entre os mais destacados praticantes dessa época, recordamos: Amadeu de Sousa, Abílio Cerdeira, Ernesto Cabanilhas, José da Mota Lopes, Mário Mota, José e João Seixas, Alfredo e Albérico Passos, Humberto V. Ferreira, António Maciel, José Maria Correia, Ernesto Reitor, Benjamim Costa e José Benigno Costa.
Embora mais evoluídos tecnicamente do que os valencianos, eram os praticantes da modalidade na vizinha cidade Espanhola de Tui, os únicos adversários nos encontros então realizados e, por tal motivo, além da forte rivalidade existente entre ambas as localidades, era frequente um final de pancadaria.
Cada um dos atletas já se munia, antecipadamente, com o frasco do álcool, ligaduras, tintura e tudo quanto pudesse ser necessário em caso de ferimentos ou lesão. Também eram os próprios atletas quem compravam as botas e demais equipamento e custeavam todas as despesas relativas ao seu transporte.
Com este nascimento, tão pobre monetariamente, mas rico espiritualmente, à medida que ia crescendo a sua fama e o conhecimento que dele se ia tendo, principiou a crescer também o número de praticantes e simpatizantes pelo novo desporto da terra.
Foi então que se conseguiu licença para a utilização do “fosso” entre os baluartes de Nossa Senhora do Faro e de S. Francisco, para a prática daquela atividade desportiva, cem por cento amadora. Foi ali que, com os “nossos rapazes” já bem senhores da matéria, quanto a técnica e preparação física, orientados por um sul-americano bem conhecedor da modalidade e aqui exilado, que se começaram a “dar cartas”. Foi ali, naquele mesmo “fosso” que o “Real Club Afonso XIII”, de Pontevedra, depois de uma vitoriosa digressão pelo nosso país, veio sofrer a sua primeira derrota, não pela superioridade dos “rapazes de Valença”, mas porque os de Pontevedra, acostumados a campos de maiores dimensões, estranharam, não se conseguindo adaptar às diminutas dimensões do “fosso”.
Continuando na sua ascensão no valor e no tempo, é em 1925 que se organiza o SPORT CLUBE VALENCIANO, com sede própria, adquirida para o efeito.
Continuando a sua carreira desportiva, aparece entre nós, em 1929 o grande Guarda Redes olímpico “Roquete”, o qual, com o seu nome, saber e dedicação, deu ao desporto Valenciano grande incremento. Nessa altura, o Sport Clube Valenciano já utilizava o então novo “Campo das Antas”, devidamente preparado para o efeito, graças ao dinamismo dos diretores da época e ao grande bairrismo dos sócios do Clube e de todo o povo Valenciano.
Entre os elementos diretivos do Sport Clube Valenciano desses dias, destacam-se os senhores, Armando da Costa Maciel, Dr. Eugénio Higgs Ribeiro, António Fernandes, Alípio Condessa, Abraão Henrique Pinto, Floriano Correia, Benjamim Ribeiro Ferreira, Salustiano de Faria, Joaquim Mestre Crespo, Bento F. Cruz, José Benigno Costa, entre outros.
Ficou-se a dever ao Senhor Joaquim da Silva Morgado o fornecimento gratuito das madeiras utilizadas nas obras de vedação do aludido Campo das Antas, bem como na edificação das bancadas, balneários e sanitários, os quais, expostos ao tempo, acabavam por trazer ao Sport Clube Valenciano, despesas mais ou menos constantes e por vezes avultadas e que a situação financeira do clube não podia permitir. Daí resultou que com o tempo, foi forçoso entregar os madeiramentos ali existentes, para custear a dívida que havia sido contraída com essas mesmas despesas de manutenção.
Foi nessa altura, a 18 de Agosto de 1929, que se realizou naquele Campo a “Grandiosa Gincana Automóvel”, na qual tomaram parte algumas dezenas de concorrentes, muitos dos quais da vizinha Espanha e, cujo êxito se ficou a dever ao seu grande organizador e impulsionador, Fernando Marques da Costa, tendo sido feita a distribuição de prémios no Salão Nobre da Assembleia Valenciana, amavelmente cedida para o efeito.
Assim, entra-se em plena atividade desportiva, com a chegada da terceira década, durante a qual o Sport Clube Valenciano, disputa o Campeonato Distrital de Viana do Castelo, tendo como adversários o Sport Clube Vianense, Desportivo de Monção, Lusitano FC e Triunfo SC de Ponte de Lima. Chega-se assim, ao dia 2 de Janeiro de 1938, dia em que, em Viana do Castelo, se vai disputar o título de Campeão Distrital, entre o Sport Clube Valenciano e o Sport Clube Vianense. O nosso Clube alcança assim, para glória de Valença e das suas gentes, no campo do adversário, o tão ambicionado título de Campeão, com o resultado de 1-0.
Ascende à categoria superior, e tem que se defrontar com o Sporting de Braga, Sport Comércio e Salgueiros do Porto e, Boavista Futebol Clube, também do Porto, no campo das Antas.
É ainda ali naquele campo que, num improvisado estrado, é levado a efeito um encontro de Boxe entre o Valenciano, Alcindo Passos e outros pugilistas de renome.
A partir dessa época, começa a decadência do Sport Clube Valenciano, não só por falta de atletas, mas também por falta de apoio, concorrendo ainda grandemente para o facto a forma pouca justa como eram tratados todos os assuntos na respectiva Associação, em Viana do Castelo.
Desta forma e até à segunda metade do ano de 1967, o Sport Clube Valenciano fica na inatividade desportiva, extorquido até do seu querido Campo das Antas, agora propriedade dos herdeiros do Dr. Artur Lourenço Raimundo.
Porém, depois da tempestade um grupo de “bons valencianos”, numa conjugação total de esforços, alheios a canseiras e trabalhos, resolve dar vida ao Valenciano de outros tempos e, para tanto, decide inscreve-lo na agenda da Associação de Futebol de Braga, com as categorias de Seniores e Juniores, para a época 1967/68 e, desta forma ressuscita o futebol Valenciano.
Embora sem grandes possibilidades técnicas e mesmo financeiras, a verdade é que consegue, no final, ascender à segunda divisão Distrital, graças ao esforço quase sobrenatural de alguns dos seus dirigentes, que, sem campo adequado, utilizando o campo do Ganfeiense, na Oliveira da Mosca, vão lutando, dia após dia, até alcançarem a meta que era, a garantia de continuação de um Sport Clube Valenciano desportivo.
A Direção do Clube, desde a sua posse, começou a envidar todos os seus esforços no sentido de obter uma solução adequada para os problemas do campo. Nomeou uma comissão encarregada do estudo necessário à aquisição do terreno para o futuro Campo de Jogos do Sport Clube Valenciano e à recolha de fundos para o efeito, comissão essa constituída pelos senhores, António Júlio Alves Pinto, José Mendes Castelão, José Júlio Cerqueira Afonso e Armando Lopes Correia Costa.
Volvidos cerca de seis meses após o início das atividades, para a glória de Valença e do seu desporto, o Sport Clube Valenciano é proprietário do antigo Campo das Antas, com uma área de 14.000m2, onde pretende edificar o seu campo de jogos ao qual decidiu chamar-se “Estádio Dr. Lourenço Raimundo”.
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