Quando em Julho passado a CP anunciou a supressão dos dois comboios diários em cada sentido, entre Valença e Vigo, alegou que o mesmo acarretava custos na ordem dos 450 mil euros anuais, para uma receita de apenas 218 mil euros, atribuída pela Renfe pelo facto de a empresa portuguesa efectuar essa operação com o seu próprio material em território espanhol. As receitas de bilheteira ficariam para a Renfe, que, curiosamente, raras vezes colocava um seu revisor no comboio português entre Tui e Vigo.
Os prejuízos da CP seriam, assim, de 232 mil euros por ano, pelo que se justificaria acabar com o serviço. "A empresa está obrigada a uma rigorosa contenção orçamental e à redução de custos, pelo que foi entendido que não se deveria continuar a perder dinheiro num serviço operado em território espanhol", justificou então a transportadora nacional.
Os protestos de ambos os lados da fronteira levaram a que a CP e Renfe chegassem a um acordo provisório no sentido de manter o serviço até Setembro, sendo que a empresa espanhola pagaria, neste período, a totalidade da operação entre Tui e Vigo, isto é, os tais 450 mil euros por ano.
O PÚBLICO, porém, fez as contas e só encontrou justificação para cerca de um terço dos encargos de exploração que a CP diz assumir nestes 40 quilómetros de percurso entre a fronteira portuguesa e Vigo.
A maior factura deste serviço é a energética. Uma automotora UDD (Unidade Dupla Diesel) consome 0,8 litros de gasóleo por quilómetro. Por ano, entre Vigo e Tui, são percorridos 58.400 quilómetros, o equivalente a um consumo anual de 46.720 litros de combustível e a igual valor em euros, pois o gasóleo ferroviário ronda um euro por litro.
Como a operação na Galiza implica que dois maquinistas portugueses pernoitem em Vigo, considerando que um quarto de hotel custe 50 euros por noite, tal implicará para a CP um gasto anual de 36.500 euros no alojamento daqueles profissionais. Um encargo que, apesar de tudo, sempre existiria para a empresa, pois, se não dormissem em Vigo, os maquinistas pernoitariam em Valença numa residencial com quem a CP tem um contrato. São, portanto, custos que a transportadora pública ferroviária terá sempre que suportar, independentemente do facto de o serviço ser prolongado a Vigo ou terminar em Valença, já que nunca esteve em causa a manutenção dos comboios entre o Porto e esta cidade fronteiriça. Já a dormida dos maquinistas em Vigo implica, para a CP, mais um encargo de 14.600 euros por ano, dado que aqueles recebem um bónus de 20 euros por cada pernoita no estrangeiro.
O comboio para Vigo não leva revisor português, que desce em Valença, pelo que este não entra nas contas. E, no troço galego, a CP não paga taxa de uso (portagem ferroviária), que é assumida pela Renfe.
Assim sendo, os custos directos da operação Valença-Vigo ascendem aos 97.820 euros (que facilmente podem ser arredondados para 100 mil euros). Como explicar os 350 mil euros que faltam para perfazer os 450 mil euros que a CP alega suportar em despesas de exploração? É que, recebendo ainda compensações da Renfe no valor de 218 mil euros anuais, a CP até acaba - aparentemente - por ganhar com o negócio cerca de 118 mil euros.
Foi isso que o PÚBLICO pediu à CP para esclarecer, mas a empresa não respondeu. É certo que há a considerar despesas de manutenção e de amortização do material circulante, mas estas nunca poderiam ser três vezes superiores à soma dos encargos em combustível e em pessoal, e só poderiam incidir de forma proporcional sobre o troço de 40 quilómetros entre Valença e Vigo.
De resto, as automotoras UDD 450, apesar de modernizadas nos anos noventa, são estruturalmente velhas, pois foram construídas na Sorefame há 40 anos, pelo que os seus custos de amortização também não poderiam ser elevados.
"É natural que a CP inclua nas contas de exploração uma parte dos seus muito elevados custos de estrutura [serviços centrais] da empresa, tornando caro o valor da operação", afirma Nelson Oliveira, presidente da Associação Portuguesa dos Amigos dos Caminhos-de-Ferro (APAC). Este dirigente associativo diz estar habituado a ser confrontado com "valores surpreendentes", quando pretende fretar um comboio especial para viagens da APAC. E comenta que estes valores não são nada transparentes, incorporando custos relativos às "gorduras" de vários departamentos da empresa.
Há uns anos, aquando do I Congresso Ibérico dos Amigos dos Caminhos-de-Ferro, o grupo espanhol viajou numa automotora especial da Renfe entre Santiago de Compostela e Valença. A Renfe cobrou 1500 euros pela viagem de Santiago até à ponte internacional sobre o rio Minho. Desde a ponte até à estação de Valença (dois quilómetros) a CP tentou cobrar 500 euros...
in Público
Os prejuízos da CP seriam, assim, de 232 mil euros por ano, pelo que se justificaria acabar com o serviço. "A empresa está obrigada a uma rigorosa contenção orçamental e à redução de custos, pelo que foi entendido que não se deveria continuar a perder dinheiro num serviço operado em território espanhol", justificou então a transportadora nacional.
Os protestos de ambos os lados da fronteira levaram a que a CP e Renfe chegassem a um acordo provisório no sentido de manter o serviço até Setembro, sendo que a empresa espanhola pagaria, neste período, a totalidade da operação entre Tui e Vigo, isto é, os tais 450 mil euros por ano.
O PÚBLICO, porém, fez as contas e só encontrou justificação para cerca de um terço dos encargos de exploração que a CP diz assumir nestes 40 quilómetros de percurso entre a fronteira portuguesa e Vigo.
A maior factura deste serviço é a energética. Uma automotora UDD (Unidade Dupla Diesel) consome 0,8 litros de gasóleo por quilómetro. Por ano, entre Vigo e Tui, são percorridos 58.400 quilómetros, o equivalente a um consumo anual de 46.720 litros de combustível e a igual valor em euros, pois o gasóleo ferroviário ronda um euro por litro.
Como a operação na Galiza implica que dois maquinistas portugueses pernoitem em Vigo, considerando que um quarto de hotel custe 50 euros por noite, tal implicará para a CP um gasto anual de 36.500 euros no alojamento daqueles profissionais. Um encargo que, apesar de tudo, sempre existiria para a empresa, pois, se não dormissem em Vigo, os maquinistas pernoitariam em Valença numa residencial com quem a CP tem um contrato. São, portanto, custos que a transportadora pública ferroviária terá sempre que suportar, independentemente do facto de o serviço ser prolongado a Vigo ou terminar em Valença, já que nunca esteve em causa a manutenção dos comboios entre o Porto e esta cidade fronteiriça. Já a dormida dos maquinistas em Vigo implica, para a CP, mais um encargo de 14.600 euros por ano, dado que aqueles recebem um bónus de 20 euros por cada pernoita no estrangeiro.
O comboio para Vigo não leva revisor português, que desce em Valença, pelo que este não entra nas contas. E, no troço galego, a CP não paga taxa de uso (portagem ferroviária), que é assumida pela Renfe.
Assim sendo, os custos directos da operação Valença-Vigo ascendem aos 97.820 euros (que facilmente podem ser arredondados para 100 mil euros). Como explicar os 350 mil euros que faltam para perfazer os 450 mil euros que a CP alega suportar em despesas de exploração? É que, recebendo ainda compensações da Renfe no valor de 218 mil euros anuais, a CP até acaba - aparentemente - por ganhar com o negócio cerca de 118 mil euros.
Foi isso que o PÚBLICO pediu à CP para esclarecer, mas a empresa não respondeu. É certo que há a considerar despesas de manutenção e de amortização do material circulante, mas estas nunca poderiam ser três vezes superiores à soma dos encargos em combustível e em pessoal, e só poderiam incidir de forma proporcional sobre o troço de 40 quilómetros entre Valença e Vigo.
De resto, as automotoras UDD 450, apesar de modernizadas nos anos noventa, são estruturalmente velhas, pois foram construídas na Sorefame há 40 anos, pelo que os seus custos de amortização também não poderiam ser elevados.
"É natural que a CP inclua nas contas de exploração uma parte dos seus muito elevados custos de estrutura [serviços centrais] da empresa, tornando caro o valor da operação", afirma Nelson Oliveira, presidente da Associação Portuguesa dos Amigos dos Caminhos-de-Ferro (APAC). Este dirigente associativo diz estar habituado a ser confrontado com "valores surpreendentes", quando pretende fretar um comboio especial para viagens da APAC. E comenta que estes valores não são nada transparentes, incorporando custos relativos às "gorduras" de vários departamentos da empresa.
Há uns anos, aquando do I Congresso Ibérico dos Amigos dos Caminhos-de-Ferro, o grupo espanhol viajou numa automotora especial da Renfe entre Santiago de Compostela e Valença. A Renfe cobrou 1500 euros pela viagem de Santiago até à ponte internacional sobre o rio Minho. Desde a ponte até à estação de Valença (dois quilómetros) a CP tentou cobrar 500 euros...
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