segunda-feira, 17 de junho de 2013

Investigador Valenciano Carlos Filipe Pereira cria células estaminais do sistema sanguíneo com células da pele

Filipe Pereira desenvolve trabalho de 'post-doc' na Icahn School of Medicine no Mount Sinai (Nova Iorque)
Uma equipa de investigadores da Icahn School of Medicine no Mount Sinai (Nova Iorque), da qual faz parte do português Filipe Pereira, conseguiu criar, a partir de células da pele, células estaminais que dão origem a células do sistema sanguíneo.
O cientista, que está nos Estados Unidos a cumprir o post-doc, e é o primeiro autor do estudo agora publicado na «Cell Stem Cell», explicou ao «Ciência Hoje» a importância e as futuras aplicações desta descoberta.
“Há mais de 20 anos os investigadores têm tentado diferenciar as células estaminais do embrião em células estaminais do sangue”, esclarece. As células estaminais do sangue são as que têm capacidade de formar todas as células do sangue, enquanto que as do embrião podem formar qualquer tipo de célula.
Mas o mais complicado era fazer com que elas formassem essas células do corpo. “No nosso estudo, fizemos uma abordagem alternativa. Em vez de passarmos pelas células estaminais do embrião, decidimos tentar gerar directamente as células estaminais do sangue através de células adultas, como as células da pele, nas quais se inseriram quatro proteínas que são expressas especificamente em células estaminais do sangue”.
Assim, a equipa conseguiu ter essa “conversão directa de um fibroblasto” (uma célula adulta) e iniciar um processo de hematogénese, em que se geram células muito similares com as células estaminais do sangue. “A identificação das quatro proteínas foi crucial para a obtenção destes resultados”, afirma.
A investigação foi feita com ratinhos, o que deu aos investigadores a possibilidade de encontrar as proteínas.“De momento, estamos a transferir a tecnologia para células humanas, fibroblastos da derme, e temos tido resultados promissores”.
A aplicação futura destes resultados pode acabar com problemas de incompatibilidade de sangue de dadores, com doenças que podem surgir das transfusões e com a dependência dos bancos de sangue. “Um paciente que precise hoje de uma transfusão sanguínea tem de procurar um dador que não lhe dê problemas de compatibilidade; há também doenças que as tranfusões podem provocar por se tratarem de células diferentes, mesmo com dadores compatíveis”.
Se no futuro a tecnologia funcionar “podem tirar-se células da pele do paciente, inserir estas quatro proteínas e gerar células que se serão reintroduzidas no sangue; estas vão até à medula óssea do paciente dando início à produção de sangue”.
Outra implicação do estudo “é a nível da biologia, da especificação das células hematopoiéticas estaminais durante o desenvolvimento”. A identificação destas quatro proteínas “abre portas ao estudo das suas funções durante o desenvolvimento embrionário e de como estas são exercidas. Isso vai ajudar-nos a saber mais sobre este processo e melhorar o nosso conhecimento sobre os mecanismos básicos da especificação das células hematopoiética no sangue”, conclui.
Carlos Filipe Pereira completou a sua licenciatura em 2002 na Universidade do Porto (UP). Em 2003, começou o doutoramento inserido no programa GABBA (Graduate Program in Areas of Basic and Applied Biology), da UP, e com apoio da FCT, mudando-se para Londres, em 2004, para continuar a sua investigação sobre células estaminais. Completou o doutoramente com 28 anos no Imperial College London. A sua investigação post-doc, na Icahn School of Medicine at Mount Sinai (Nova Iorque, EUA), possível graças a uma bolsa da EMBO. Publicou já mais de 20 artigos e ganhou distinções de organizações como a FCT, EMBO e o Rotary Club.
 

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