O Minho Digital descobriu a valenciana Filipa Cunha. A viver em Valongo, onde leciona num centro de estudos, a jovem de 29 anos concilia a vida profissional com a sua grande paixão: a música. Faz parte de dois grupos de música: IPUM e Vai de Ronco. Filipa desde cedo se rendeu aos sons dos instrumentos de percussão e sopro e foi nos tempos de estudante na Universidade do Minho que descobriu o gosto pelo bombo e pela gaita-de-foles.
Com inúmeras atuações agendadas de norte a sul do país, Filipa Cunha assume que se sente realizada quando está em palco. O Minho Digital foi ao encontro da artista para dar a conhecer o que a jovem faz no mundo da música tradicional portuguesa.
Minho Digital (MD) - Antes de mais, conte-nos surgiu o gosto pela percussão, nomeadamente pelo bombo e pelos instrumentos de sopro, como o gaita de foles. De que forma aprendeu a tocar esses dois instrumentos tão diferentes um do outro? Foi desejo seu ou foi incentivada por alguém?
Filipa Cunha (FC) - O gosto pela percussão surgiu em 2007 quando tive oportunidade de experimentar um ensaio num grupo de percussão da Universidade do Minho, e a partir daí fiquei com o bichinho. O gosto pela gaita-de-foles surgiu mais tarde, em 2010, quando o grupo iPUM decidiu apostar neste instrumento de sopro e na sua junção com a percussão e danças tradicionais. Na iPUM (Associação de Percussão Universitária do Minho) aprendi a tocar percussão e gaita-de-foles, por desejo meu e também por incentivo do grupo na aposta da gaita-de-foles transmontana.
MD- Como é que se sente quando está a tocar?
FC- Sinto que estou a fazer o que mais gosto e por isso sinto-me feliz e concretizada. Fazer música é algo difícil de definir, penso que quem o faz sabe do que falo.
MD- Neste momento está integrada em dois projetos musicais: O IPUM e o Vai de Ronco. Fale-nos um pouco sobre cada uma das bandas, as suas semelhanças e diferenças.
FC- A iPUM apresenta percussão tradicional (bombo, caixa e timbalão tradicional), gaita-de-foles transmontana, danças tradicionais portuguesas e europeias e ainda artes circenses. Esta associação procura dar a conhecer a percussão tradicional e a gaita-de-foles pelo país. Procuramos relembrar o mais recôndito do tradicional que durante uma fase esteve quase a entrar em desconhecimento.
O grupo Vai de Ronco surgiu de uma oportunidade de participar na animação de uma Feira Castro-Galaica. Também partilhamos o mesmo gosto pela música tradicional, apresentando a caixa de guerra, o bombo tradicional e a gaita-de-foles transmontana. Procuramos estender o nosso repertório passando pelo estilo folk, celta e medieval.
MD- De que materiais é feito o bombo que utiliza no Vai de Ronco? Quanto pode chegar a custar um instrumento como aquele que utiliza?
FC - O bombo é feito de madeira e a pele é tradicional, provém da pele de cabra. Este instrumento anda à volta dos 150€, dependendo do tipo de bombo que se pretende.
MD- A Filipa é de Valença mas vive em Valongo. Porquê a decisão de mudar de cidade?
FC - A decisão de mudar de cidade aconteceu por motivos de emprego. Arranjei emprego em Valongo e por cá tenho permanecido.
MD- Quanto tempo dispõe semanalmente para os ensaios? É fácil conciliar a sua vida pessoal, com o seu trabalho no centro de estudos e ainda ser membro de duas bandas? Como arranja tempo para tudo?
FC - Semanalmente disponho de uma hora e meia de ensaio com a iPUM e de duas horas semanais de ensaio de gaita-de-foles, isto sempre e quando tenho possibilidade. Vou conseguindo conciliar tudo pois a vida não nasceu para ser fácil. Por norma as atuações da iPUM são noturnas, as de Vai de Ronco são durante o fim-de-semana e o trabalho no centro de estudos é semanal e diurno. Tenho a sorte de a entidade com quem trabalho me dar a liberdade e consentimento para conciliar as duas coisas.
MD- Em relação às atuações, quem é que se encarrega de gerir as vossas presenças em festas e eventos?
FC- As atuações da iPUM são geridas pela direção da mesma e as atuações de Vai de Ronco são tratadas pelos elementos do grupo, ou seja por mim e as minhas colegas.
MD- Como está a ser a agenda deste ano?
FC- A agenda de 2015 foi razoavelmente preenchida. Este ano com Vai de Ronco, iniciámos atividade em Maio e continuará até Outubro. Em Dezembro já temos uma atuação em vista. A iPUM também tem tido uma agenda relativamente preenchida, mas os apoios por vezes são complexos de manusear.
MD- As pessoas, quando assistem aos vossos concertos, reagem bem ao tipo de música que apresentam? Acha que o feedback do público é positivo?
FC- Tendo repertório tradicional português o feedback é sempre positivo. Por sorte, nunca tivemos nenhuma reação má.
MD- No IPUM qual é o público-alvo? E o Vai de Ronco, pretende ser um estilo de música direcionados para que faixa etária?
FC- Na iPUM o público-alvo vai desde o infantil até ao idoso. O estilo musical de Vai de Ronco é direcionado a todo o público também.
MD- Têm algum tipo de apoio na compra de instrumentos e na indumentária para os concertos ou estão por vossa conta?
FC- Estamos por nossa conta, exceto se o evento requerer algum outro tipo de indumentária, que nos é normalmente emprestada, no caso de Feiras Romanas por exemplo.
MD- Para quando uma atuação no Vale do Minho? Já há data marcada?
FC- Vai de Ronco estará em breve por terras de Fundão, Pedras Salgadas e Terras de Bouro. A mais próxima do Minho será mesmo em Terras de Bouro, dias 17 e 18 de outubro.
MD- Acha que o seu trabalho, enquanto artista de música é reconhecido na sua cidade berço? Tem consciência se os valencianos reconhecem o que faz?
FC- Além dos meus familiares e amigos, não tenho consciência que o povo valenciano conheça o meu trabalho na música.
MD- O que pretende atingir com o IPUM e o Vai de Ronco? Alguma meta pessoal?
FC- Pretendo dar a conhecer e relembrar as raízes tradicionais portuguesas. O que é nacional é bom e não pode entrar no esquecimento.
A música tradicional portuguesa é fonte de inspiração para a jovem valenciana que se desdobra para conciliar a vida pessoal, o emprego de professora, os ensaios das duas bandas de música e as atuações noturnas e aos fins-de-semana. É caso para se dizer que Filipa Cunha faz jus ao velho ditado “Quem corre por gosto não cansa!”.
in MinhoDigital por Liliana santos Gonçalves
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