Gosto de vaguear pela fortaleza de Valença e dedicar-me à descoberta de recantos menos conhecidos, que ela nos oferece. Hoje, fugindo ao costumeiro “ponto de vista”, que venho trazendo aos leitores desta publicação, faria uma incursão por este património monumental.
Começaria com um excerto de “O Velho Minho”, de Sant’Ana Dionísio, onde se refere à Praça-Forte de Valença: “(…) dos milhares de transeuntes que cada dia passam a deslado desta recatada estratificação à terra (…), bem raros são aqueles que possuem uma ideia justa do seu valor histórico (…)”.
E quantos valencianos também ainda não se aperceberam do imenso e inegável valor patrimonial representado por estas imponentes muralhas?
Um monumento como este deve ser, em todos os tempos, um motivo de arte, uma razão de estudo e de curiosidade. É, sem dúvida, uma manifestação do belo, da inventiva, do esforço e do patriotismo.
E se há monumentos que falam à alma, esses são as velhas fortalezas que têm o poder de invocar tempos idos.
Séculos e séculos sorvidos pelo cavalgar implacável do tempo e elas continuam, mais ou menos incólumes, suportando as intempéries naturais e as tempestades humanas.
Elas são símbolos de uma história imortal, que resistem a todas as nefastas investidas dos que não entendem o sofrer de cada pedra pisada pelos cascos dos cavalos e pelo troar dos canhões, de cada porta batida pelos gritos da fúria invasora, de cada palmo de terra ensopado pelo sangue dos que as defenderam e mantiveram erguidas com a esperança de que os vindouros pudessem compreender alguma coisa da sua ancestralidade.
A educação do carácter, o sentimento da beleza, as virtudes cívicas, o entendimento da arquitectura nas suas linhas mais diversas, tudo passa pelo conhecimento destes monumentos.
Mas, nem só por estas razões as devemos preservar. Nos tempos de hoje, perspectivam-se outros motivos, ainda que bem mais prosaicos.
Na verdade, as fortalezas são elementos turísticos fundamentais, que podem trazer numerosos visitantes, ávidos de deliciarem os sentidos e a imaginação, o que proporcionará o engrandecimento das terras que outrora protegeram.
Também Valença tem o privilégio de possuir uma antiga e orgulhosa fortaleza repleta de história e de mistérios. Que todos os valencianos aprendam a defendê-la, agora sem armas na mão e de armaduras vestidos, como num passado já longínquo, mas com a inteligência e com o coração, porque estarão a defender o seu próprio futuro e os que de si vierem.
Porém, para esta defesa se tornar efectiva é necessário percorrer um longo e difícil percurso com múltiplas vias.
Uma dessas vias prende-se com a conservação e requalificação de todo o casco histórico; outra deverá ter, como componente básica, a criação de uma espécie de roteiro que indique as partes mais significativas dos seus espaços; finalmente, uma outra que terá de buscar, através de um apelo à capacidade criadora dos responsáveis municipais e de toda a comunidade valenciana, uma forma de levar a que a zona interior desta vetusta fortaleza seja mais atractiva e, consequentemente, se torne mais habitada como em tempos passados.
Alguns passos já começaram a ser dados, outros estarão em vias de o ser, mas a corrida está ainda longe do objectivo.
É tempo de todos darem as mãos e contribuírem, cada um à sua maneira e dentro das suas possibilidades, para o atingir desse gigantesco desiderato de elevar a fortaleza de Valença a Património da Humanidade.
Pinto Neves in Revista Vale Mais
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