Contestadas foram também as designadas ilhas do Verdoejo, situadas em frente a esta localidade, um pouco acima da praça de Valença. Este conjunto, que ainda no século XVIII era apenas uma ilha portuguesa, fragmentarase em 3 principais (ver mapa): a ínsua Grande, a montante, seguida do Conguedo (ou Canguedo), a que os espanhóis diziam chamar Raña Galega na parte voltada à Galiza (aliás, erradamente, segundo Vasconcelos e Sá), e depois Cancela, a jusante, esta improdutiva e cobrindose de água no Inverno. Portugal reclamavaas como suas, alegando documentalmente o seu tradicional usufruto (com consequente pagamento de impostos), primeiro pelos jesuítas (o emprazamento da única ilha então existente fora feito em 1520 pelo abade do mosteiro de Sanfins a um morgado português residente em Monção), depois pelo pároco da freguesia de Verdoejo e, em seguida, pelos condes de S. Martinho. Provavamse também as antigas ambições espanholas mas desde o tratado de paz de Utrecht de 1715, que determinara que a raia voltasse à situação anterior à guerra e a expressa restituição a Portugal da ínsua do Verdoejo (ainda única), que as tentativas de apropriação tinham cessado, até serem renovadas pela comissão mista de demarcação em meados de Oitocentos.
No entanto, a comissão técnica demonstrou que o talvegue do rio havia passado junto à margem direita, a Norte da ínsua Grande (atravessandose a pé enxuto desta para a do Conguedo, no Verão), por onde se fazia a navegação principal, e
que foram os espanhóis que
entulharam esse braço com
estacas e pedras (situação que
o segundo presidente da comissão,
Vasconcelos e Sá,
testemunharia depois), enquanto
o talvegue migrava
para o lado português (quando
anteriormente este era terreno
seco no Ve rão). Mas a primeira
comissão mis ta, presidida
por Cabreira, havia
acor dado que a ínsua Grande
fosse considerada espanhola
sem sequer ouvir práticos
ou testemunhas de ambos os
lados, como determinavam as
instruções que regiam os trabalhos.
Esta questão motivou
um longo relatório dirigido directamente
ao governo pelo
secretário Guilherme Cou
vreur, em Ou tubro de 1856,
demonstrando que a secção
espanhola “ce ga pela sua
ambição acreditou que, em virtude
do bom manejo de suas
lisonjeiras expressões, iludia
e seduzia” a portuguesa,
comprometendo ve lada men
te o seu responsável, demasiado
cordato. Mas a delega
ção diplomática, e por consequência o Tratado de 1864 resultante dos seus
trabalhos, acabou por seccionar o conjunto, ficando na posse portuguesa
apenas as ilhas de Canguedo e Ranha Galega, e, tendo em conta os danos,
o tratado remeteu para um regulamento especial as construções feitas no
curso dos rios e as alterações ao seu traçado.
Quanto à ilha da Cancela, que à época da demarcação não era detida
por nenhum dos dois países, e que as partes acordaram que seria destruída,
acabou na posse espanhola. Também aqui, na resolução das ilhas
do Verdoejo, se reconhece que os representantes portugueses não pugnaram
pelos interesses do seu país.
in IGEOE
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