A ponte de São Pedro da Torre - ou Ponte Velha, como também é localmente conhecida - é mais um dos muitos casos de estruturas de passagem de origem romana reutilizadas e reformuladas na época baixo-medieval. É, também, um dos mais claros exemplos da modéstia e da simplicidade com que grande parte destas velhas pontes romanas foram refeitas nos primeiros séculos da nacionalidade, a ponto de não possuírem características estilísticas precisas - românicas ou góticas -, um facto que origina grandes dificuldades de catalogação e de abordagem cronológica.
Não parecem restar grandes dúvidas acerca da sua origem. No quadro da viação romana do entre-Lima-e-Minho, a estrada que ligava Braga ao noroeste peninsular tinha aqui um ponto de passagem ou seria mesmo o seu término, segundo as conclusões de Ferreira de Almeida (ALMEIDA, 1987, p.165). Nas imediações, concretamente no lugar de Chamosinhos, encontraram-se vestígios da organização romana, como é testemunho um marco miliário (IDEM, p.165).
A própria ponte mantém algumas características que se podem atribuir ao período romano: uma delas é a pouca curvatura do tabuleiro, que tende para a horizontalidade da dupla rampa; outra, ainda mais elucidativa, é o aparelho cuidado e regular do intradorso do arco, à base de grandes silhares bem aparelhados; finalmente, o pavimento parece ser, ainda em grande parte, de origem romana, recorrendo a grandes lajes de dimensões homogéneas e cuidadosamente colocadas.
Mas se estes dados confirmam a sua origem, outros indicadores denunciam uma parcial reformulação no período baixo-medieval. A dupla rampa não inteiramente horizontal confirma que, por esta altura, o arco que suporta a estrutura de passagem foi intervencionado. Ele manteve a sua feição de volta perfeita, mas o facto de possuir aduelas "compridas e estreitas" pode ser um indicador material dessa reforma (RIBEIRO, 1998, p.194).
Já o período específico em que tal campanha teve lugar é impossível, para já, estabelecer com segurança. A modéstia e singeleza da ponte inviabiliza até uma catalogação de índole estilística. É possível que a reforma medieval tenha sido efectuada nos séculos XIII-XIV (IDEM, p.194), na mesma altura em que a pacificação dos territórios ocidentais favoreceu a mobilidade dos homens e o dinamismo comercial inter-regional. No entanto, outras opiniões apontam para que ela apenas tenha sucedido na época moderna (ALMEIDA, 1987, p.165), disparidade de sugestões cronológicas que atesta bem a dificuldade de contextualização deste imóvel no panorama da evolução da arquitectura civil nacional.
Bastante mais tarde, em data incerta, mas com certeza nos últimos séculos, uma das guardas do tabuleiro foi o local onde se implantou uma muito naif cruz, decorada com a figuração de Cristo Crucificado, em madeira, manifestação de religiosidade popular que deve ser entendida como o modesto sinal de religiosidade aplicada à passagem dos rios, que podemos encontrar em numerosas outras pontes do país.
Sem campanhas de restauro conhecidas, a velha ponte romano-medieval permanece como um dos mais importantes testemunhos da organização e da mobilidade das populações nestes dois períodos, não obstante a sua modéstia construtiva. Ela carece, ainda, de um coerente programa de estudo e de valorização, que passará, indiscutivelmente, pelo arranjo das margens da ribeira e pela consolidação da estrutura e de seus elementos originais.
Está classificado como IIP - Imóvel de Interesse Público
in Património Cultural
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